segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Um dia qualquer...


O tempo é o senhor da razão. Ele desliza sobre nossos olhos embebedando os dias para que não vejamos suas consequências refletidas nos passos e no espelho.
    Aos quinze anos, eu queria ter rugas marcas da vida. Ser adulta, e envelhecer nos papos e nos sopapos do dia a dia...

    Num passe de mágica, vivi tantos verões, outonos, invernos e primaveras. E de repente, o tempo me fez acordar em plena estação chuvosa. Olhei-me por dentro e pela primeira vez, percebi que as horas correram depressa na “lentidão” das minhas inquietudes sonhos e planos...

    Era uma manhã  como todas as manhãs de todos os dias. Escancarei o entusiasmo para esbanjar o meu vigor impregnado nas minhas vontades e desejos. Vi-me em todos os mundos FANFARREANDO o novo e o imprevisível na inquietação da “eterna” juventude...

    Porém, como um passe de mágica, olhei com LUPAS a minha pele que já não tinha mais a maciez da seda, nem a textura da eterna criança. Pela primeira vez, senti meu corpo cansado, vi algumas rugas disfarçadas, mas persistentes marcando meu rosto “perfeito”...

    Olhei para os campos floridos e não mais saí correndo para colher frutos, me deitar sobre as folhagens, gritar aos ares e aos mares que eu existo que eu persisto, que eu posso, que eu conquisto...
    Senti frio ao escutar meu coração dizer que estava fraco de tanto que já tinha caminhado, decidido, e vivido por mim. Aconcheguei-o com minhas mãos e pedi desculpas pelas vezes em que não fui capaz de ouvi-lo e poupa-lo...

    Nesse dia, não esperei o anoitecer chegar. Preferi traze-lo antes da hora. Fechei mais cedo as portas dos meus problemas por me faltar forças para enfrenta-los. E por toda a noite, fiquei a procurar meu EU, meu SER, meu TUDO.

    No próximo amanhecer estava cansada com os conflitos do que descobri numa rápida olhada ao espelho. Refiz conceitos, reforcei valores, redescobri motivos, reinventei razões...

    Foi só então que percebi a vida seguir seu curso em meio ao fator biológico que tem horas, minutos, e segundos para conceder “prazos e validades”. Uma lógica que ultrapassa riquezas, impérios, status, e condições glamorosas por não ser fruto de uma realidade em que podemos agarra-la e transforma-la as nossas ansiedades e vontades...

    Compreendi que por ironia ou JUSTIÇA DIVINA, somos todos subalternos dessa ENGRENAGEM biológica cronológica sociológica e psicológica que faz da eterna juventude tão somente momentos marcados para começar e terminar...

    E em questão de segundos, estamos no barco que acelera o tempo ao passo em que desliza nas ironias apenas para mostrar, sacudir, e fazer engolir que somos apenas o instante, o  agora...

    As “fortunas” que conquistamos, não servem se quer para descarrilar as assombrações temerosas de saber que a certeza do nascer, viver e morrer, está além dos nossos anseios da eterna juventude, eterno apego a tudo isso materialmente falando...

    A âncora de todo esse processo, não aceita cartão de crédito, patrimônio material, muito menos imposição capitalista de quem constrói impérios como forma de se achar acima do bem, do mal, ou apenas “eternizar-se” aqui mesmo...

    Tudo engano! O alto grau do espelho revela a aproximação da chegada. Os sinais de um fim que virá para todos em qualquer circunstância mesmo que alheia as mais persistentes vontades. A inconsciente certeza de que nunca envelheceremos e jamais teremos que fazer a tão temida “PASSAGEM”, é pura ilusão! 

NADA MAIS SOMOS QUE NUVENS PASSAGEIRAS...