segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Dono de empresa que levava Chapecoense, piloto queria transportar Seleção Brasileira

Miguel Quiroga, piloto do avião que caiu nesta terça-feira levando jornalistas, jogadores e dirigentes da Chapecoense, era também um dos dois sócios da micro companhia aérea Lamia, que tinha apenas 15 funcionários - entre parentes e amigos. Depois do acidente, restaram só 8.

Depois de tentativas frustradas de entrar no circuito de voos comerciais para África e Europa, sua empresa se especializou em transportar times de futebol em voos fretados - entre os clientes estão seleções (Bolívia, Argentina e Colômbia) e times sul-americanos (como o Nacional da Colômbia, o Olímpia, do Paraguai, e a própria Chapecoense, que já havia usado os serviços da Lamia em outubro).

"Há dois meses, ele me procurou pedindo para eu intermediar um contato com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), porque ele tinha interesse em transportar mais times, inclusive a Seleção Brasileira", contou Osvaldo Quiroga, primo do piloto, em entrevista por telefone à BBC Brasil.

Quiroga foi procurado porque tinha contato com ex-jogadores da seleção, mas conta que a negociação não chegou a se concretizar. "Infelizmente não deu tempo."

À reportagem, Gustavo Vargas, diretor-geral da companhia e amigo de Miguel Quiroga, confirmou o foco em times de futebol e disse que o avião que levava a equipe brasileira para Medellín, na Colômbia, estava decorado com escudos e flâmulas da Chapecoense.

"Para cada time que levávamos, personalizávamos o avião. Colocávamos o escudo e símbolos para tornar a viagem mais agradável."

Ele nega boatos de que a empresa praticasse preços baixos para ganhar competitividade no mercado de voos fretados.

"Nosso serviço é um pouco mais caro, mas é mais rápido", diz Vargas. "Há muitas razões (para os times voarem com a Lamia). A equipe pode ir e voltar no mesmo dia, no horário que quiser. Podemos chegar a locais onde não há voos regulares. Podemos fazer quantas escalas forem necessárias."

Família de aviadores

Aos 36 anos, Miguel Quiroga, conhecido pela família como Micky, havia tido a terceira filha há três meses. Vivia com a mulher e os filhos (além do bebê, um menino de 13 anos e uma de 9) em uma casa de classe média no lado acreano da fronteira com a Bolívia.

"Somos uma familia grande, meu avô vinha da indústria aeronáutica, era encarregado da Lloyd Aereo Boliviano (companhia aérea extinta em 2007)", conta o primo.

"O pai dele, Eduardo, também foi piloto e sofreu um acidente que o impossibilitou de continuar voando. Mudou-se para o Brasil para se recuperar."

Segundo o familiar, o interesse de Micky pela aviação foi fruto das conversas familiares. "Ele estudou em colégio militar na Bolivia, fez faculdade na Força Aérea Boliviana, onde virou piloto e adquiriu o grau de capitão", relata.

Antes de se tornar sócio da Lamia, o piloto havia montado uma escola de aviação, onde era instrutor. "Era a paixão dele a vida inteira. Quando surgiu a oportunidade de comprar uma empresa aérea, ele aproveitou para adquiri-la."

Visto como herói e vilão, Quiroga é alvo de especulações nas redes sociais. Durante a entrevista, o primo pede respeito ao luto dos familiares.

"Falam que ele demorou para informar sobre falta de combustível para não receber multa. Ora, nenhum piloto vai expor a própria vida, nem a das pessoas que está carregando. Não faria sentido colocar a própria vida em risco, ele havia acabado de ser pai."

"Os boatos ferem a família", diz Osvaldo Quiroga.

"Um amigo de rede social chamou meu primo de mafioso. Ele nem o conhece. O conteúdo das caixas-pretas nem foi divulgado."

Nenhum comentário:

Postar um comentário